Após ter 100% do pulmão comprometido e passar 52 dias internada, mulher vence a Covid-19 em RO: ‘Eu sou um milagre’

Mulher vence Covid após mais de 50 dias entubada em Porto Velho
Mulher vence Covid após mais de 50 dias entubada em Porto Velho
“Quando acordei, pensei que eu tinha acordado no outro dia de manhã. Não lembro de nada, não senti nada, não vi nada”. Essa foi a sensação que Lenilcia Pascoal teve quando acordou após 52 dias entubada entre leitos clínicos e de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com Covid-19. A dona de casa, de 41 anos, passou quase dois meses inconsciente, em estado grave, e por isso não se lembra do tempo que passou no hospital.

Lenilcia e o marido Ernildo, de 60 anos, foram internados com Covid duas vezes. A primeira internação durou cinco dias em leitos clínicos. Porém o casal voltou a se sentir mal e retornou ao hospital. Nessa segunda vez, Ernildo, apesar de ser do grupo considerado de risco, teve alta após 13 dias. Já Lenilcia teve o quadro agravado e precisou ser transferida para UTI.

No dia seguinte da transferência da esposa para a unidade intensiva, Ernildo conta que voltou para visitá-la e ela já estava entubada. Com o passar dos dias a situação só se agravou. Lenilcia teve 100% do pulmão comprometido e por isso os médicos não davam mais esperança à família.

“Ele [médico] falou que infelizmente ela não respondia aos tratamentos e a medicação que estava sendo colocado pra ela, que ‘infelizmente não podia fazer nada’. Isso foi horrível pra mim”, contou o marido.

 

Lenilcia Pascoal passou quase dois meses internada com Covid-19 — Foto: Rede Amazônica/Reprodução

Lenilcia Pascoal passou quase dois meses internada com Covid-19 — Foto: Rede Amazônica/Reprodução

“Não foi fácil o que eu passei, mas para Deus nada é impossível. Eu creio muito que eu sou um milagre. O médico chegou e falou no meu ouvido: ‘nunca esqueça de agradecer a Deus, porque você é um milagre'”, lembrou Lenilcia.

 

Para os profissionais de saúde que acompanharam a luta dela pela vida, foi um longo período de tratamento com várias intervenções medicamentosas e de ventilação mecânica.

“Uma paciente que ao longo desses 50 dias em estado gravíssimo, além de uma ventilação mecânica com parâmetros elevadíssimos pra gente manter os níveis basais, a oxigenação mínima, também é uma paciente que precisou usar medicações para controlar a pressão arterial, batimento cardíaco por um tempo prolongado. Além da complicação de outros órgãos e sistemas, como uma insuficiência renal, que teve que realizar hemodiálise. Então foi um período longo de tratamento”, explicou o coordenador de fisioterapia, Eduardo Dibi.

Trabalho que Lenilcia reconhece e agradece, desde os médicos, até os funcionários da limpeza. “Eu quero agradecer a equipe médica, os técnicos de enfermagem, os enfermeiros, as moças da copa, da limpeza. Eu sou grata por todos. Uma coisa que eu vou levar pro resto da vida: ser grata”, falou Lenilcia.

A dona de casa teve alta médica no dia 5 de maio, quase dois meses após a internação, mas ainda vai precisar de muita paciência e espera para se recuperar das sequelas deixadas pela doença. Ela precisa da ajuda da família para fazer tarefas simples. Por causa da Covid, Lenilcia agora necessita do uso de fraldas e de cadeira de rodas.

Para recuperar a autonomia, ela é acompanhada diariamente por uma equipe de fisioterapeuta, nutricionista, fonoaudióloga e terapeuta ocupacional.

“Eu choro de felicidade quando faço um movimento que eu não estava fazendo. Para mim é uma emoção. Eu consigo virar na cama devagar. Eu consigo mexer minhas pernas. Então eu peço para as pessoas: por favor, se cuidem, essa doença acaba com o ser humano. Mas eu estou aqui para contar a minha história de superação”, pediu.

Saúde mental no pós-Covid

 

Em entrevista à Rede Amazônica, a psicóloga Carla Ito, informou que pelo grande avanço da pandemia e pela letalidade da doença, muitos pacientes que foram infectados acabam despertando vários sintomas e doenças psicológicas durante e após a infecção.

“A gente percebe o aumento das crises de ansiedade e pânico, que têm se tornado cada vez mais frequentes em pacientes pós-covid, tanto dos que passaram pela internação, quanto daqueles que não precisam desse recurso. As pessoas que passam por isso, passam por momentos de incerteza, de dor, de muita ansiedade e frustração”, explicou.

Para ela, a busca por tratamento psicológico deve ser feita desde o diagnóstico. E é papel da equipe de saúde e da família oferecer esse suporte emocional.

“A questão emocional é realmente importante porque durante a fase da doença, vem o sentimento de desesperança, as vezes de frustração, dor, ansiedade. O paciente e os familiares precisam lidar com tudo isso”, falou.

Fonte: g1